sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

VALE prepara invasão de eucalipto no Pará


A Vale - antiga companhia Vale do Rio Doce - anunciou que irá plantar, até 2015, 346 milhões de árvores “nos países onde atua”. Nos países onde atua? No mesmo informe publicado no site da companhia, a Vale comunica que, do total, 345 milhões de mudas serão cultivadas no Brasil. “O restante será destinado a projetos da Vale no exterior”, esclarece. Oras, isso significa menos de 0,29% do total. Adiante a companhia completa: 343,7 milhões irão para o Pará; ou seja, mais de 99,3 % daquilo que iria para os “países onde atua”. A “ajuda ecológica” da Vale tem uma justificativa: o comercio de créditos de carbono. Do total que será plantado, 50% será eucalipto e a outra metade, floresta natural. Segundo o economista Hélder Gomes, da rede Alerta contra o deserto Verde*, o efeito sobre o meio ambiente é “perverso”.

Linhas tortas: Como essas plantações podem prejudicar o meio ambiente?

H.G.: Produzir árvores para fazer carvão não tem muita validade, porque quando se queima o carvão, você emite gás. E plantar, não com florestas nativas, nem permanentes, mas plantar árvores para o mercado não adianta! Quando se corta árvores com seis, sete anos, você acaba sugando muito recurso hídrico do solo. Então, tem um efeito ambiental muito perverso, ainda que tentem dar uma conotação ecológica.

Linhas tortas: Além dos créditos, existe outra razão para a Vale investir no plantio de eucalipto?

H.G
.: A Vale está entrando fortemente no negócio siderúrgico no Brasil. Associada ao capital estrangeiro – chinês, por exemplo –, com participação acionária do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS), com o projeto no Nordeste, na Amazônia e inclusive no Espírito Santo, já estão projetando uma nova siderúrgica em no Sul. Então, ao mesmo tempo em que fatura com crédito de carbono, ela já pensa em fontes de energia para sua produção. E o eucalipto tem destinação diversa. Além da celulose para papel, serve como carvão para siderurgia.

Linhas tortas: Quais outros impactos este investimento pode gerar?

H.G
.: As monoculturas no geral trazem, além de impactos ambientais muito grandes – pois o insumo básico é água, tanto para eucalipto, quanto para cana-de-açúcar e outros –, um problema social grave, na medida em que as monoculturas exigem uma apropriação do território, e isso tem efeitos maléficos sobre a questão fundiária. Então, ao invés de se promover uma redistribuição da terra. Acaba-se concentrando ainda mais a terra em grandes latifúndios.

*A Rede Alerta Contra o Deserto Verde tem o objetivo de frear a expansão da monocultura do eucalipto no Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A Rede é formada por aproximadamente 100 entidades e luta pela devolução das terras que foram tomadas de indígenas, quilombolas e pquenos proprietários rurais, além de combater a exclusão social e exigir reforma arária e recomposição da mata nativa (fonte: fase).

por Jorge Oscar

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